sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Oposição em apuros

Por: Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.


Oposição em apuros
Lula e o Brasil estão no rumo certo


Nos últimos 30 anos, o Brasil viveu crises econômicas a cada dois ou três anos. Agora, o país parece ter consolidado a possibilidade de atravessar um ciclo prolongado de crescimento. Economistas falam em dez anos seguidos de elevação do PIB (Produto Interno Bruto) a taxas que o Brasil não experimentava fazia tempo.

Se esse cenário se confirmar, o país passará por transformações positivas num ritmo acelerado. Terá mais instrumentos para tentar reduzir a desigualdade social e combater a violência nos centros urbanos --dois problemas que fazem parecer menores os avanços do país desde a redemocratização em 1985.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem méritos pelo bom momento econômico do Brasil, mas não foi o único responsável pela sua construção. No entanto, é Lula quem está no leme nesta hora. Portanto, ele colhe os dividendos políticos.

A oposição está em apuros. Seu duro discurso soa destinado a dar pouco resultado. Tanto que os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, tentam se distanciar da ação do PSDB e do DEM no Congresso Nacional. Acertadamente, os tucanos Serra e Aécio compreenderam a necessidade de dialogar com o eleitorado lulista por uma simples razão: a maior parte da população aprova o governo, apesar de seus defeitos.

Como disse em recente entrevista à Folha o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), o presidenciável mais bem posicionado nas pesquisas sobre a sucessão de 2010, a oposição está "num mato sem cachorro". Por isso, ela oscila em sua ação política --ora flerta com uma crise política que derrube Lula, ora contesta a política social.

Ainda que encontrasse a "Fiat Elba de Lula", o petista tem rede sólida de apoio político e popular. É uma conjuntura distinta da que tragou Fernando Collor de Mello em 1992.

Um confronto na política só levaria Lula a uma radicalização retórica ainda mais inflamada do que o equivocado ataque ao Judiciário desferido na quinta-feira (28/02).

Em outra frente de batalha, DEM e PSDB questionam a política social. Até hoje hesitam entre se apresentar como pais do Bolsa Família ou críticos que o julgam assistencialismo eleitoreiro. A última cartada foi recorrer à Justiça na terça-feira (26/02) contra os "Territórios da Cidadania", um programa que tentar dar unidade a ações dispersas já em andamento. Nos R$ 11,3 bilhões previstos para o programa, não há dinheiro novo. Os "Territórios da Cidadania" são um aprimoramento gerencial para tentar atender melhor 7,8 milhões de pessoas nas áreas mais carentes.

Para uma oposição que usa o clichê do gerenciamento dia sim e o outro também, o programa deveria ser considerado um avanço. Tem o foco certo. Mas, como foi lançado em ano de eleições municipais, o programa só prestaria a ambições políticas menores de Lula e do PT.

Ora, o Brasil tem eleições a cada dois anos. Recorrer ao argumento de uso eleitoreiro é tentar limitar a ação do governo. O estabelecimento desse padrão se voltará contra a oposição no dia em que ela estiver no poder. Mais: ao se posicionar contra programa sociais, tucanos e democratas dão a Lula a chance de acusá-los de não gostar dos pobres.

O atual discurso da oposição não serve para um país que retomou a oportunidade de crescer de forma significativa por um período longo. Para que esse ciclo se sustente, o Brasil deveria cuidar da infra-estrutura, sobretudo da energia, e da educação, de modo a preparar os brasileiros para uma onda econômica que exigirá mão-de-obra mais qualificada. Mas esses dois assuntos são marginais na agenda da oposição.