sexta-feira, dezembro 24, 2010

Sinal da Santa Cruz

Feliz Natal a todos e muita paz, amor e felicidades em 2011.

Quero aproveitar para registrar uma pergunta que me fizeram outro dia, coisa de católicos.
Como se faz o sinal da Santa Cruz.
Normalmente com a palma da mão aberta e o polegar voltado para o próprio rosto.
Com o polegar marcamos 3 cruzes e dizemos assim:
Pelo sinal da Santa Cruz (+ traça-se uma cruz na testa), livrai-nos, Deus, nosso Senhor (+ traça-se uma cruz na boca), dos nossos inimigos (+ traça-se uma cruz no coração).
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo amém. (sinal da cruz).

Felicidades!!!!

segunda-feira, outubro 18, 2010

O VOTO DO NORDESTE: para além do preconceito

VOTO DO NORDESTE: para além do preconceito


Tânia Bacelar de Araujo*


A ampla vantagem da candidata Dilma Rousseff no primeiro turno no Nordeste
reacende o preconceito de parte de nossas elites e da grande mídia face às
camadas mais pobres da sociedade brasileira e em especial face ao voto dos
nordestinos. Como se a população mais pobre não fosse capaz de compreender a
vida política e nela atuar em favor de seus interesses e em defesa de seus
direitos. Não "soubesse" votar.

Desta vez, a correlação com os programas de proteção social, em especial o
"Bolsa Família" serviu de lastro para essas análises parciais e eivadas de
preconceito. E como a maior parte da população pobre do país está no Nordeste,
no Norte e nas periferias das grandes cidades (vale lembrar que o Sudeste abriga
25% das famílias atendidas pelo "Bolsa Família"), os "grotões"- como nos tratam
tais analistas ? teriam avermelhado. Mas os beneficiários destes Programas no
Nordeste não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais
elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e
CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a
Serra).

A visão simplista e preconceituosa não consegue dar conta do que se passou nesta
região nos anos recentes e que explica a tendência do voto para Governadores,
parlamentares e candidatos a Presidente no Nordeste.

A marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas
nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte
do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades
sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.

Por outro lado, ao invés da opção estratégica pela "inserção competitiva" do
Brasil na globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais
estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de
Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na
produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste. Na inserção
competitiva, o Nordeste era visto apenas por alguns "clusters" (turismo,
fruticultura irrigada, agronegócio graneleiro...) enquanto nos anos recentes a
maioria dos seus segmentos produtivos se dinamizaram, fazendo a região ser
revisitada pelos empreendedores nacionais e internacionais.

Por seu turno, a estratégia de atacar pelo lado da demanda, com políticas
sociais, política de reajuste real elevado do salário mínimo e a de ampliação
significativa do crédito, teve impacto muito positivo no Nordeste. A região
liderou - junto com o Norte - as vendas no comercio varejista do país entre 2003
e 2009. E o dinamismo do consumo atraiu investimentos para a região. Redes de
supermercados, grandes magazines, indústrias alimentares e de bebidas, entre
outros, expandiram sua presença no Nordeste ao mesmo tempo em que as pequenas e
medias empresas locais ampliavam sua produção.

Além disso, mudanças nas políticas da Petrobras influíram muito na dinâmica
econômica regional como a decisão de investir em novas refinarias (uma em
construção e mais duas previstas) e em patrocinar - via suas compras - a
retomada da indústria naval brasileira, o que levou o Nordeste a captar vários
estaleiros.

Igualmente importante foi a política de ampliação dos investimentos em
infra-estrutura - foco principal do PAC - que beneficiou o Nordeste com recursos
que somados tem peso no total dos investimentos previstos superior a
participação do Nordeste na economia nacional. No seu rastro,a construção civil
"bombou" na região.

A política de ampliação das Universidades Federais e de expansão da rede de
ensino profissional também atingiu favoravelmente o Nordeste, em especial
cidades médias de seu interior. Merece destaque ainda a ampliação dos
investimentos em C&T que trouxe para Universidades do Nordeste a liderança de
Institutos Nacionais ? antes fortemente concentrados no Sudeste - dentre os
quais se destaca o Instituto de Fármacos ( na UFPE) e o Instituto de
Neurociências instalado na região metropolitana de Natal sob a liderança do
cientista brasileiro Miguel Nicolelis que organizará uma verdadeira ?cidade da
ciência? num dos municípios mais pobres do RN ( Macaíba).

Igualmente importante foi quebrar o mito de que a agricultura familiar era
inviável. O PRONAF mais que sextuplicou seus investimentos entre 2002 e 2010 e
outros programas e instrumentos de política foram criados ( seguro ? safra ,
Programa de Compra de Alimentos, estimulo a compras locais pela Merenda Escolar,
entre outros) e o recente Censo Agropecuário mostrou que a agropecuária de base
familiar gera 3 em cada 4 empregos rurais do país e responde por quase 40% do
valor da produção agrícola nacional. E o Nordeste se beneficiou muito desta
política, pois abriga 43% da população economicamente ativa do setor agrícola
brasileiro.

Resultado: o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9%
de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada
para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.

Daí a ampla aprovação do Governo Lula em todos os Estados e nas diversas camadas
da sociedade nordestina se refletir na acolhida a Dilma. Não é o voto da
submissão - como antes - da desinformação, ou da ignorância. É o voto da auto-
confiança recuperada, do reconhecimento do correto direcionamento de políticas
estratégicas e da esperança na consolidação de avanços alcançados - alguns ainda
incipientes e outros insuficientes. É o voto na aposta de que o Nordeste não é
só miséria (e, portanto, "Bolsa Família"), mas uma região plena de
potencialidades.

*Tânia Bacelar de Araujo é especialista em desenvolvimento regional, economista,
socióloga e professora do Departamento de Economia da UFPE (Universidade Federal
de Pernambuco).

quinta-feira, outubro 14, 2010

UMA QUESTÃO DE PONTO DE VISTA E CONSCIÊNCIA PESSOAL.

De um tempo para cá, só tenho recebido e-mails mostrando contradições e erros do governo de LULA. Claro que tenho que aceitar a maior parte da crítica (menos as mentirosas) e concluir que o grupo de LULA não é bom para governar o país. Dilma é continuidade e, por tanto, deveria ser evitada.

Este ano, 2010, tivemos dois candidatos nos quais, em principio, poderíamos votar: Marina e Plínio de Arruda. Mas a certeza estatística de que a eleição seria disputada entre Dilma e Serra, me fez tomar a decisão de escolher, ente os dois, aquele que considerei, neste momento, menos ruim, tendo em vista o contexto político do país, ou seja, Dilma.

POR QUÊ?

Nossa sociedade sempre foi dirigida por uma elite de aproximadamente 5% da população, composta, principalmente, dos políticos e grandes empresários, que controlam a mídia e através dela fazem um trabalho competente, mas muitas vezes sem ética, de formação da consciência da classe alta, média e da classe mais empobrecida. Por isso é que os candidatos comprometidos e defendidos por esse grupo venceram as eleições até 2000, mantendo o grupo no poder. Uma parte das leis e da administração do país sempre privilegiou os interesses dessa elite, e a prova disso é que o Brasil, sendo um dos países com uma das maiores riquezas de solo e subsolo do mundo é, até hoje, um dos países com uma distribuição de renda das mais desiguais do mundo. A eleição de Lula foi uma exceção no Brasil. Pela primeira vez foi eleito um presidente contra a opinião da mídia e da elite dirigente. Por isso, ele se tornou uma esperança do povo e um desafio para a elite. É verdade que, para os que analisam a conjuntura com um pouco mais de profundidade, ele passou, com o tempo, a representar uma fonte de incoerência e decepção.

E POR QUE AINDA VOTAR NA CONTINUIDADE DE LULA?

É comprovado que psicologicamente acontecimentos presentes mexem muito mais com a gente do que acontecimentos do passado, mesmo que estes sejam até mais fortes. Portanto devemos rever o passado com mais atenção, fazendo uma análise fria e imparcial dos fatos principalmente se a decisão conseqüente implica na modificação da qualidade de vida das pessoas marginalizadas e sem vez da nossa sociedade.

Para que esta análise imparcial seja mais bem fundamentada lembramos a vocês alguns acontecimentos do passado recente, ocorridos no governo de FHC, que a imprensa faz questão de esquecer:

SIVAM: Logo no início da gestão de FHC, denúncias de corrupção e tráfico de influências no contrato de US$ 1,4 bilhão para a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) derrubaram um ministro e dois assessores presidenciais. Mas a CPI instalada no Congresso, após intensa pressão, foi esvaziada pelos aliados do governo e resultou apenas num relatório com informações requentadas ao Ministério Público.

PASTA ROSA: Pouco depois, em agosto de 1995, eclodiu a crise dos bancos: Econômico (BA), Mercantil (PE) e Comercial (SP). Através do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro (Proer), FHC beneficiou com R$ 9,6 bilhões o Banco Econômico numa jogada política para favorecer o seu aliado ACM. A CPI instalada não durou cinco meses, justificou o "socorro" aos bancos quebrados e nem sequer averiguou o conteúdo de uma pasta rosa, que trazia o nome de; 25 deputados subornados pelo Econômico.

PRECATÓRIOS: Em novembro de 1996 veio à tona a falcatrua no pagamento de títulos no Departamento de Estradas de Rodagem (Dner). Os beneficiados pela fraude pagavam 25% do valor destes precatórios para a quadrilha que comandava o esquema, resultando num prejuízo à União de quase R$ 3 bilhões. A sujeira resultou na extinção do órgão, mas os aliados de FHC impediram a criação da CPI para investigar o caso.

COMPRA DE VOTOS
: Em 1997, gravações telefônicas colocaram sob forte suspeita a aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição de FHC. Os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, teriam recebido R$ 200 mil para votar a favor do projeto do governo. Eles renunciaram ao mandato e foram expulsos do partido, mas o pedido de uma CPI foi bombardeado pelos governistas.


DESVALORIZAÇÃO DO REAL: Num nítido estelionato eleitoral, o governo promoveu a desvalorização do real no início de 1999. Para piorar, socorreu com R$ 1,6 bilhão os bancos Marka e FonteCidam – ambos com vínculos com tucanos de alta plumagem. A proposta de criação de uma CPI tramitou durante dois anos na Câmara Federal e foi arquivada por pressão da bancada governista.

PRIVATARIA: Durante a privatização do sistema Telebrás, grampos no BNDES flagraram conversas entre Luis Carlos Mendonça de Barros, Ministro das Comunicações, e André Lara Resende, dirigente do banco. Eles articulavam o apoio a Previ, caixa de previdência do Banco do Brasil, para beneficiar o consórcio do banco Opportunity, que tinha como um dos donos o tucano Pérsio Árida. A negociata teve valor estimado de R$ 24 bilhões. Apesar do escândalo, FHC conseguiu evitar a instalação da CPI.

CPI DA CORRUPÇÃO: Em 2001, chafurdando na lama, o governo ainda bloqueou a abertura de uma CPI para apurar todas as denúncias contra a sua triste gestão. Foram arrolados 28 casos de corrupção na esfera federal, que depois se concentraram nas falcatruas da Sudam, da privatização do sistema Telebrás e no envolvimento do ex-ministro Eduardo Jorge. A sujeira no ninho tucano novamente ficou impune.

EDUARDO JORGE
: Secretário geral do presidente, Eduardo Jorge foi alvo de várias denúncias no reinado tucano: esquema de liberação de verbas no valor de R$ 169 milhões para o TRT-SP; montagem do caixa dois para a reeleição de FHC; lobby para favorecer empresas de informática com contratos no valor de R$ 21,1 milhões só para a Montreal; e uso de recursos dos fundos de pensão no processo das privatizações. Nada foi apurado e hoje o sinistro aparece na mídia para criticar a "falta de ética" do governo Lula.

CPIs SABOTADAS: FHC impediu qualquer apuração e sabotou todas as CPIs. Ele contou ainda com a ajuda do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que por isso foi batizado de "engavetador geral". Dos 626 inquéritos instalados até maio de 2001, 242 foram engavetados e outros 217 foram arquivados. Estes envolviam 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e ex-ministros e em quatro o próprio FHC. Nada foi apurado, a mídia evitou o alarde e os tucanos ficaram intactos.

Muitas outras corrupções ocorreram no governo de FHC. Quase todas elas têm uma característica em comum: as CPI´s NÃO FORAM AVANTE, os envolvidos não foram indiciados e hoje nem a Lei da Ficha Limpa os atinge.

POR QUE?

O governo de FHC era fortalecido pelas elites e pela mídia, que permitiam o bloqueio das CPI´s e da ação da Policia Federal, CGU, Ministério Publico etc...

O governo de LULA quis fazer a mesma coisa e recebeu, de saída, uma CPI que indiciou seus principais líderes que hoje terão que se submeter à lei da Ficha Limpa (muito bom, é o que devia ser feito com qualquer um que pratique a corrupção). A partir daí o governo não teve mais força de bloquear a ação dos órgãos públicos de fiscalização que passaram a atuar bem melhor, conforme dados abaixo:

CGU: A Controladoria Geral da União, encabeçada pelo ministro Waldir Pires, fiscalizou até agora 681 áreas municipais (desde 2005) e promoveu 6 mil auditorias em órgãos federais, que resultaram em 2.461 pedidos de apuração ao Tribunal de Contas da União. Apesar das bravatas de FHC, a Controladoria só passou a funcionar de fato no atual governo, que inclusive já efetivou 450 concursados para o trabalho de investigação.

POLÍCIA FEDERAL no governo de Lula o número de Policiais Federais passou de 5mil para 11mil, isso permitiu que a PF executasse 183 operações contra a corrupção, o crime organizado, a lavagem de dinheiro etc..., que resultaram em 2971 prisões, não importando a classe social e a posição das pessoas presas, contra apenas 20 operações no governo de FHC que levaram a apenas 54 prisões.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL funcionou muito mais do que na época de FHC.

Pelo exposto, podemos concluir que a elite pode atuar como CONIVENTE (associada) ou FISCAL dos atos do Presidente da República.

Partindo das premissas, abaixo, subjacentes a esta análise:

Se Dilma fez parte ativa do grupo de Lula, o seu governo praticará atos semelhantes.

Se Serra fez parte ativa do grupo de FHC, o seu governo praticará atos semelhantes.

Fica fácil concluir que qualquer um dos dois candidatos que seja eleito precisa ser muito bem fiscalizado.

Um governo de Serra iria “jogar solto”, pois a elite é conivente com ele, enquanto que o governo da Dilma iria ser questionado e fiscalizado, e é do questionamento e da discussão que aparecem soluções novas para a sociedade (um exemplo é a lei da Ficha Limpa) e nunca de situações em que o erro é competentemente camuflado, fazendo reinar uma aparente situação de paz na sociedade.


Fonte: Via e-mail

quarta-feira, outubro 06, 2010

Trajetória do Brasil

Caros amigos e familiares!
por Robson Abreu

Tenho recebido uma miríade de correios eletrônicos alusivos ao governo Lula da
Silva, em especial nestes últimos dias que antecedem o pleito eleitoral.
Em sua grande maioria, trata-se de mitigar e desconstituir a pessoa e o governo do
presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, eleito e reeleito democraticamente, e sua
candidata à presidência, a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
As mensagens eletrônicas (emails) revelam, em geral, que foram encaminhadas de
outrem. Por serem encaminhadas, não revelam, a priori, a opinião daqueles que me encaminham
as mensagens. Não obstante, pela viço, constância e quantidade dos encaminhamentos, tratá-los-
ei, aqui, como se de opinião lhes fossem.
Com efeito, procurarei abordar a maioria das questões que, pelo que me recordo,
foram temas dos emails a mim enviados.

1 - Breve histórico

“Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República.
Para mudar. Este foi o sentido de cada voto dado a mim e ao meu
companheiro José Alencar”.
(discurso de posse do Presidente Lula, O Globo, 2 de janeiro de 2003)

A eleição do presidente Lula, em 2002, teve um grande significado na história do
Brasil. Emblematicamente, representava a ascensão ao poder de uma liderança sindical legítima,
firmando-se um marco na tradição histórica de um país sempre governado por representantes de
classes dominantes.
Observemos que depois da morte de Tancredo Neves em 1985, cedendo lugar
a José Sarney (que tinha sido presidente do partido oficial no regime militar); de Fernando
Collor, assumindo em 1990 juntamente com o mesmo partido que fora a base de apoio a Sarney
(o antigo PFL); de FHC, em 1995, sucedendo a um presidente do qual tinha sido ministro da
Fazenda; a eleição de Lula foi o primeiro caso de real alternância democrática desde a entrega
do poder a Jânio Quadros por parte de JK, mais de 40 anos antes. Isso, sem dúvida, é um feito
extraordinário.
A associação do PT com os ideais socialistas (aos puristas semânticos, um
breve recado: “socialistas” no sentido de socialização do poder político, tornando-o menos
representativo e mais participativo, tal qual ocorre nos Orçamentos Participativos (OP). Nada
a ver com Cuba e URSS.) emerge a possibilidade de uma transformação política e social na
América Latina com um significado ideológico que não era visto, segundo historiadores, desde
a eleição de Salvador Allende no Chile, no início da década de 70. E Lula captou o significado
histórico do momento: quem não se lembra da insistente repetição da palavra “mudança” no
seu discurso ao assumir a Presidência da República?; e da célebre frase: “a esperança venceu o
medo!”, respondendo à queridinha do Brasil, a atriz Regina Duarte, sobre sua infame campanha
de cooptação de eleitores contra Lula, patrocinada pela Rede Globo?
Ocorre que a prática do exercício do poder político veio a demonstrar depois que
as mudanças foram bem menores do que inicialmente imaginadas, especialmente no que diz
respeito à política fiscal e ao inchaço de cargos, verbas e poderes da Presidência (não houve
diminuição do aparelho estatal). Por outro lado, a intensificação de algumas políticas vigentes
em estado ainda embrionário no governo FHC, somada ao aumento notável dos superávits
comerciais e aos efeitos acumulados de sucessivos superávits primários, agora em um contexto
internacional muito mais favorável, permitiram uma melhora social inequívoca a partir de 2003,
combinada com um quadro macroeconômico como raras vezes se tinha visto no país.

2 - Indicadores socioeconômicos: uma melhora inquestionável.

Não é minha intenção detalhar a melhora de diversos indicadores, até porque isso
tem sido mostrado diuturnamente na imprensa e nos órgãos estatais e não estatais do país. Mas
tem gente que adora um indicezinho, em especial o PIB, sem saber que existem índices que
infinitamente melhor expressam e radiografam a realidade socioeconômica de uma população
ou de um país. Interessante notar também que nos emails alusivos a índices macroeconômicos
não há a preocupação dos internautas de analisar o contexto que circunscreve qualquer
indicador.
A Constituição Federal de 1988 (CF) estabeleceu novas bases de proteção social
para o desenvolvimento do Estado de bem-estar social. Diversificação de atendimentos,
sofisticação dos conteúdos das políticas públicas, ampliação na cobertura dos benefícios e
na prestação de serviços, tudo direcionado cada vez mais para a universalização, para todos
os brasileiros. Tal demanda constitucional de direitos fez com que o gasto social avançasse
relativamente ao PIB. Em 2008, por exemplo, a força dos benefícios da Previdência e
Assistência Social somada à elevação do valor real do salário mínimo evitou que quase 45%
dos brasileiros se encontrassem na condição de pobreza extrema. Qualquer idoso hoje no Brasil
tem direito ao benefício do Amparo Assistencial ao Idoso. Dificilmente se vê um velhinho a
mendigar nas ruas e sinais de nossas cidades. Tudo isso é, sem sombra de dúvidas, um feito
extraordinário.
Em 1988 a pobreza atingia 41,7% da população e o índice Gini, usado para medir
a desigualdade de renda entre os países, era de 0,62 (quanto mais próximo de zero, menor é
a desigualdade de renda). Em 2008, a taxa de pobreza caiu para 25,3% dos brasileiros (queda
de quase 40% em relação a 1988) e a desigualdade de renda diminuiu para 0,54 (redução de
11,7%).
Na área da saúde destaca-se a queda de 62% na taxa de mortalidade infantil (de
50,8 óbitos por mil nascidos vivos, em 1988, para 19,3 em 2008), o que favoreceu a elevação
da expectativa média de vida dos brasileiros em 10,6% (de 50,8 para 72,8 anos entre 1988 e
2008). Em 20 anos, ganhou-se 20 anos a mais para viver, o que é extraordinário e digno de ser
festejado.
Também na educação se observa a elevação na frequência escolar, de 26,9% para
78,1% entre 1988 e 2008 para a faixa etária de 4 a 6 anos; de 84,1% para 98,1% na faixa de 7 a
14 anos, e de 52,4% para 83,7% na faixa de 15 a 17 anos, o que contribuiu para a ampliação da
escolaridade média da população de 15 anos ou mais de idade, de 5,1 para 7,4 anos desde a CF-
88. Apesar da melhora educacional dos últimos anos, o Brasil encontra-se ainda muito distante
do necessário patamar de ensino-aprendizagem. Temos ainda o sofrível registro de um em cada
dez brasileiros analfabetos, e a escolaridade média da população situa-se abaixo dos 8 anos
obrigatórios segundo a CF-88.
O gasto social passou de 13,3% do PIB, em 1985, para 21,9% em 2005. Apesar
disso, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – índice onde destaca-se a expectativa
de vida, a taxa de alfabetização e o PIB per-capita de uma população – do Brasil alcançou,
segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano -2005, publicado pela ONU, notas de 0,76
na expectativa de vida; 0,89 na educação; e 0,73 na renda per-capita. Isso mostra que o ponto
mais fraco do país é a formação, o valor e a distribuição de renda. Necessita-se produzir mais e
aumentar bem mais o poder aquisitivo do brasileiro.
E foi exatamente na distribuição de renda que o governo Lula se fez mais presente.
Lula reverteu a trajetória do endividamento público registrada nos anos FHC. Sua política social
caracterizou-se pela expansão dos recursos destinados a áreas politicamente sensíveis, como as
ligadas ao desenvolvimento social, diminuição das desigualdades regionais e ao tema do salário
mínimo.
Entrando no site da Secretaria do Tesouro Nacional podemos perceber, como
exemplo, que as operações de realização de despesas referentes ao crédito rural na rubrica do
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), em 2009, somaram
32,19% do total das despesas com crédito rural, contra 4,53% do Financiamento de Custeio
Agropecuário (agronegócio). Isso mostra a importância na redistribuição de renda, onde os
recursos do PRONAF fortalecem as pequenas atividades produtivas, como, por exemplo,
financiando a apicultura na Serra do Mel, no Rio Grande do Norte, que vem batendo recordes

de alta qualidade na produção de mel orgânico, considerado um dos mais puros do Brasil. O
Sebrae local já capacitou, de 2004 a 2009, 6.000 apicultores, repassando técnicas de manejo e
melhorando a cadeia produtiva do mel. Talvez um único trator no agronegócio desempregasse
6.000 pessoas!
Naquilo que se refere ao Bolsa-Família (BF), tão odiado pelos grandes meios de
comunicação do país, e por tantos internautas, trata-se de um programa de transferência de
renda às famílias mais pobres do país, que atingiu quase 13 milhões de beneficiados em 2009,
na forma de um valor mensal entregue diretamente na conta dos indivíduos. O programa tem
vários méritos: os recursos vão diretamente para as pessoas, dispensando a intermediação das
máquinas políticas; trata-se de gasto focado nos indivíduos mais pobres da população; envolve
um montante de recursos modestos (0,5% do PIB em 2007), indicando relação custo/benefício
baixa considerando o número de beneficiados; gera um ciclo circular de renda, onde bens e
serviços passam a ser produzidos para recepcionar os recursos provenientes do BF nas mãos das
famílias.
Ainda que a semente do BF tenha sido os programas sociais do segundo mandato
de FHC, foi o governo Lula que o fez germinar, crescer, florescer e dar frutos: aumentou quatro
vezes o volume de recursos a serem empregados no programa; aperfeiçoou administrativamente
os procedimentos, dando mais eficiência ao programa; e teve a habilidade de explorar com
muito mais competência política do que seu antecessor.
Alguns autores revelam que o Brasil acabou desenvolvendo um modelo próprio,
ainda que não deliberado, por meio do qual o estado tem privilegiado as políticas assistenciais.
Trata-se, assim penso, de um novo “contrato social”, que pretende moldar um país com maior
proteção social, com fulcro na CF-88.
Estes simples números acima comprovam que uma política social consistente,
de longo prazo, atuando sobre a base da pirâmide de renda, é fundamental para a redução das
desigualdades reinantes no país. Progresso e desenvolvimento só se conseguem quando todos os
cidadãos inserem-se no projeto nacional, fazendo-se desse país realmente um país de todos.
Por fim, lembramos que o estágio de desenvolvimento em que cada país se
encontra na atualidade é fruto do seu passado. É conhecida uma história de um jardineiro
dos EUA que passou umas férias na Inglaterra e ficou maravilhado com os jardins de uma
grande universidade inglesa. Curioso, ele conversou com o responsável e aprendeu os segredos
necessários para que o jardim causasse essa impressão tão boa aos visitantes. De retorno ao
seu país, fez exatamente o que lhe sugerira o seu colega inglês, mas os resultados não foram os
mesmos. Escreveu então ao jardineiro inglês arguindo-o acerca da razão do seu fracasso. Obteve
a seguinte explicação como resposta: “é que aqui estamos fazendo a mesma coisa há 300 anos”.
Aqui, estamos há pouco mais de 20!

3 - O poder da mídia e a manipulação do voto

É de conhecimento de todos que a influência da mídia e do poder econômico é
uma realidade. Os três grandes jornais do Brasil que pautam a agenda nacional, O Globo, o
Estadão e a Folha de São Paulo, estão totalmente integrados à campanha de Serra, assim como
os jornais de Brasília e do Rio de Janeiro.
Lembremos que 1989 houve um amplo posicionamento de todos os meios de
comunicação, imprensa escrita, revistas e principalmente televisão, a favor de Fernando Collor
e em oposição a Lula, que estava concorrendo pela primeira vez a uma eleição presidencial,
curiosamente a primeira eleição direta para presidente da República depois da ditadura militar.
Lembro-me que tinha uma mulher que tinha sido namorada de Lula e que tinha engravidado, e
que Lula queria que ela abortasse e que odiava negros. Tal atitude foi extremamente negativa
para Lula. Mas os tempos, e Lula, eram outros.
Apesar da entrada na internet no processo eleitoral, desde 2002, 75% dos brasileiros
ainda têm na TV aberta sua principal fonte de informação sobre política. Hoje, todas as
campanhas majoritárias utilizam pesquisas de opinião para orientar suas mensagens eleitorais:
oferecem o que o eleitor quer ouvir. Alguns especialistas em marketing eleitoral identificam a
aprovação do presidente da República como primeiro fator mais importante em uma eleição. O
contexto econômico, o programa e a identificação partidária seguem em grau de importância.

Nesta reta final de campanha, observamos a oposição vociferar acusações
como “fascismo”, “chavismo”, ‘destruidor da liberdade de expressão e da democracia”, entre
outros berros, contra Lula e sua candidata. Malgrado os péssimos hábitos do presidente, tentar
desqualificar a discussão sobre a força da participação popular como risco às instituições é
conversa pra boi dormir.
Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, comentou na Folha, de 27/09/
10, que “é absolutamente normal que certos setores da imprensa sejam claramente definidos
do ponto de vista ideológico e que tomem posição a partir disso. Da mesma forma, é normal
que setores da classe política procurem criticar tais pontos de vista. O governo Barack Obama
afirmou, com todas as letras, que a Foxnews agia como um partido político e, nem por
isso, foi comparado a Mussolini. Não há por que ver algo diferente no caso brasileiro. Uma
certa serenidade a respeito das relações entre mídia e democracia é mais do que necessária
atualmente. [...] A imprensa não é responsável por todos os males do país. No entanto,
discussões sobra avaliação de concessões públicas de meios de comunicação, oligopolização
e concentração de mercado de informações, [...] não escondem, necessariamente, a sanha de
destruir a liberdade de expressão.”
O fato é que a democracia nunca temeu modificar e reconstruir instituições
ineficientes. Daí a importância de um tema central para a ampliação da democracia em nosso
país: a reforma política.
Atualmente a mídia influencia em termos. Se em 1989 o leitor não tinha
informações para exercer o sufrágio, hoje ele está bem mais informado. Se observarmos bem ao
nosso redor, percebemos que há determinadas políticas sociais que contemplam determinados
setores da sociedade nunca contemplados. Assim, o eleitor, ao ouvir uma crítica ao Bolsa-
Família, rechaça-a, pois para ele o BF é uma bênção, como o é para a cidade dele. Existe uma
expansão da economia, uma maior valorização da vida e do próprio cidadão, principalmente
para mulheres, que recebem o BF.
Ora, caros internautas, amigos e familiares em especial, se o eleitor está percebendo
que a vida dele está melhorando, ele não vai acatar o que a imprensa fala, entendem? Não
adianta excomunharem a Dilma! Não adianta se unirem e encaminharem e reencaminharem
infinitamente textos apócrifos e vis, julgando pessoas de assassinas, chavistas, comunistas e
outras besteiras mais, como se presidissem um tribunal de exceção, procedimento execrável em
uma democracia.

3.1 – Estado X Religião

Recebo muitos emails dos católicos de carteirinha a dizerem que a Dilma é a favor
do aborto. Ocorre que ela já afirmou e reafirmou que não é – o que é uma pena, pois se ela
dissesse que era a favor da descriminalização do aborto, que trataria o aborto como problema
de saúde pública, aí sim eu votaria nela. Nossa Constituição de 1891 já consagrava a separação
entre o Estado e a Igreja, com a graça de Deus. Eu gostaria de ter a liberdade que os católicos,
enquanto católicos, têm de votar livremente em seus representantes políticos, inclusive em
candidatos padres, e nós, pobres mortais, não podemos votar em quem preside nossas paróquias,
não podemos escolher nossos arcebispos. Como eu gostaria de votar em um arcebispo ficha-
limpa, sem suspeitas da prática de pedofilia.
Os emails dos católicos tratavam uma candidata à presidência da República como
escória, como criminosa. Falou-se só dela e não de suas propostas. De alguma forma pareciam
tratar a pessoa da candidata à margem da função que pretende realizar caso seja eleita. E,
caso isso ocorra, o que tem enorme probabilidade, perderam a oportunidade de discutir, ou
até mesmo simplesmente escutar, suas propostas. E passarão mais quatro anos a xingar. A
comunidade católica presta um desserviço aos senso crítico, em não utilizar esse importante
meio de comunicação que é a internet para fazer um contraponto à razão cínica dos candidatos.
Mas não é de se esperar razão onde impera a fé cega.
No Brasil, o Estado é laico. Não tem religião oficial, graças a Deus. A todos
respeita e protege, não indo contra as instituições religiosas com o poder de polícia ou com
o poder de tributar. O Estado não tributa a catedral católica, a casa espírita kardecista, o
terreiro de candomblé ou de umbanda, a igreja protestante, shintoísta ou budista e a mesquita
maometana, mas tributa o meu templo, que é a minha casa, com o IPTU. O Estado protege

aqueles que possuem fé comum, protege aquele que se dedica ao culto de sua predileção. Sendo
assim, parece-me surreal os católicos internautas, enquanto católicos internautas e não cidadãos,
não agirem em reciprocidade para com o Estado, respeitando a democracia, a opinião de cada
um, o pluralismo ético-religioso. Como se pode, então, atirar pedras na “pecadora” candidata
Dilma, com o único fim de caluniar e excluir, sem permitir-lhe ampla defesa, sem permitir-lhe
o contraditório. Logo eles, os católicos, com uma vasta história em que se consagraram como
adeptos de sacrifício humano e fanatismo demente e visionário.
Por falar em religião, pesquisa Gallup feita em 114 nações, em 2009, e divulgada
no último dia 31 de agosto mostra o que Eduardo Galeano há muito denunciava: quanto mais
religioso, mais pobre tende a ser um país. Não poderia ser diferente. Em geral, as religiões,
frutos que são da cultura humana, consolam seus adeptos a lidar com a pobreza, explicam e
justificam sua posição social, oferecem esperança, satisfação emocional e soluções mágicas
para enfrentar problemas imediatos do cotidiano. As religiões de salvação, como a católica,
prometem ainda compensações para os sofrimentos e insuficiências desta vida no outro mundo.
Destarte, até que ponto esse papel favorece e melhora a vida no cotidiano, hoje, amanhã ou,
pelo menos, nesta vida?
A propósito, 87% são os brasileiros que consideram a religião parte importante
de suas vidas. O Brasil se situa, nesse contexto, em condições de renda per-capita similares a
países como o Iraque, a Romênia, a Turquia, o Líbano, o Panamá e a Índia. Os mais religiosos
são a Indonésia, a Malásia, a Argélia e a Tunísia (de maioria islâmica, e pobres). Os menos
religiosos, Suécia, Dinamarca, Japão e Reino Unido (nenhum católico, e ricos). Os EUA
são uma exceção. O país mais rico do mundo corrobora as constatações do fabuloso livro de
Max Weber (A ética protestante e o espírito do capitalismo): 67% da população, de maioria
protestante, têm a maior renda per capita do mundo.
O comando católico então se justifica: sem compreender a importância do momento
atual, acertam o meu destino, sem me pedir uma opinião.

Sobre todo esse barulho provocado por centenas e mais centenas e emails, há
meses, fiquei calado, até porque não gosto de barulho onde não há razão. Peço desculpas pelo
longo texto, mas eis que me posiciono, e trago uma historinha que um colega de mestrado me
remeteu:

Certa manhã, um sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque e eu
aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e, depois de um pequeno
silêncio, me perguntou: - Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo
mais alguma coisa? Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi: -
Estou ouvindo um barulho de carroça. - Isso mesmo, é de uma carroça
vazia... Perguntei-lhe, então: - Como o senhor sabe que a carroça está
vazia, se ainda não a vimos? - Ora - respondeu ele: É muito fácil saber se
uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça,
maior é o barulho que ela faz. Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo
uma pessoa (...), querendo demonstrar que é a dona da verdade, tenho a
impressão de ouvir a voz do sábio, dizendo: 'Quanto mais vazia a carroça,
maior é o barulho que ela faz'...

BOM VOTO!

Mas peraí, Robson, e o legado de Lula?
Eita, já ia me esquecendo!

4 – O legado de Lula

A figura de Lula é única. Pobre, nordestino (pernambucano), retirante, que se
torna presidente do Brasil. Não vai surgir um político no Brasil como o Lula. Assim como o
Getúlio Vargas ou como JK. É preciso compreender o fenômeno Lula, não depreciando a figura

dele, como se faz constante entre tantos nordestinos que me enviam emails, fato que me causa
espanto. Não se pode depreciá-lo, porque senão ele não seria reconhecido, não teria 84% de
avaliação positiva, e seu governo 75%. Isso por quê? Porque ele vez alguma coisa.
Apesar da imprensa bater incessantemente (como batem os emails que recebo),
apesar de a todo momento falar de mensalão, Jefferson, Zé Dirceu, Veja etc., Lula conseguiu
se desvencilhar do PT e do grupo umbilicalmente ligado a ele, passando a ter uma avaliação
positiva do seu governo, conseguindo se reeleger. Isso prova que tudo que foi veiculado e
publicado pela imprensa não sensibilizou o eleitor.
Seus defeitos são muitos e nocivos à democracia. Lula representa também a
viva negação da sentença segundo a qual a lei deveria entrar pela própria casa do legislador.
Mas eu não tenho o condão dos católicos, nem sua competência, de sair julgando
presidentes.
Uma conclusão, então? Não tenho! Bom, mas à falta da minha, apresento uma idéia
que pode satisfazer ou, preferencialmente, fazer pensar as pessoas que apreciam as conclusões.
Foi tirada do livro O crepúsculo dos ídolos, de Nietzsche, um dos mais originais pensadores
do século XIX. Ao apresentar seu conceito de liberdade, afirma que “o valor de uma coisa não
reside no que com ela se alcança, mas no que por ela se paga – no que nos custa”.
Lula é original e único na história de nossa República, e chegou ao poder por
processos legítimos que não mancham nossa consciência, a consciência da maioria que o elegeu
duas vezes, e elegeria uma terceira, se possível fosse, e com mais ímpeto e quorum que as duas
anteriores. Para a maioria, pois, Lula está certo. Pagamos o preço em tê-lo como presidente,
apesar do alto custo. Agora ele sai e transfere seus votos para a Dilma. Esta herdará parte dos
eleitores de Lula, mas não receberá junto com os votos o prestígio do presidente. Caso Dilma
seja eleita, iniciará o mandato sem a mesma popularidade do atual presidente e, na atividade de
governo, contará principalmente com as regras, as instituições, os partidos...e sentirá na pele as
dores e as delícias de ser a primeira mulher presidente do Brasil.
Não vou mais cansá-los com minhas palavras enfadonhas, pois se já me cansei
delas, que dirá vocês? Política envolve paixão, e a paixão embota a razão.
Ocorre que a liberdade custou-nos o sangue de nossos antepassados. Para alguns,
porém, a escolha de um presidente em um pleito democrático assemelha-se à satisfação
fácil advinda do gesto de assinalar seu voto como uma obrigação da qual se pretende o mais
breve evadir-se. Mas, certamente, haverá sempre alguém disposto a mudar seu destino,
compondo com sua participação ativa não o pano de fundo, mas a peça principal sobre a qual
a História vê desenrolar suas cenas de glória, pujança, liberdade, igualdade e solidariedade.

“A democracia tem a demanda fácil e a resposta difícil”.
Noberto Bobbio

QUE DEUS ILUMINE NOSSOS CÉREBROS E CORAÇÕES

BOM VOTO

ROBSON ABREU
01/10/2010

sexta-feira, junho 11, 2010

Lula, o brasileiro

Lula, o brasileiro
Pedro Estevam Serrano – Última instância

O acordo tripartite Brasil-Irã-Turquia tem, para nós brasileiros, um sentido histórico inegável e apenas timidamente reconhecido por uma mídia nacional, que de tamanha má vontade com nosso presidente já abalou sua credibilidade informativa com parte significativa da mídia global.

Talvez o Irã não cumpra o acordado, como afirmam as grandes potências, talvez a guerra seja inevitável. Mas há uma dimensão da situação que é certamente inescapável, como afirmam analistas e experts entrevistados pelo portal de notícias UOL. O Brasil passará a ter outro papel na geopolítica global, independentemente até de seu presidente. Estranhamente a mídia não anunciou que passávamos a ocupar um papel relevante no globo por conta também da habilidade de nosso presidente, mas agora anuncia que não dependemos mais dele para ter tal projeção.

Fazer piada com as frases inusitadas de nosso presidente tem se tornado um estranho e muito positivo vaticínio para nós brasileiros. Brincávamos com os erros de português e com a incultura monoglota de nosso presidente —como ele poderia se relacionar com líderes mundiais tendo tamanha ignorância idiomática? Pois o Lula monoglota tratou de ser o presidente brasileiro mais ouvido pelo mundo e seus líderes em toda nossa história. “O cara” como disse Barack Obama, presidente dos EUA.

Todos nós brincamos com a forma infantil, pouco técnica e até arrogante como Lula tratou a gravíssima crise econômica global que chagava ao país. “Marolinha”, disse ele, não teria o condão de descontinuar nosso crescimento. Todos fizemos da expressão uma piada, nossa mídia inclusive. Pois é, hoje, o governo está adotando medidas para conter o “super-crescimento” que ocorre este ano. Era marola mesmo.

Muitas foram as piadas sobre a forma anti-democrática como Lula se comportaria forçando com sua popularidade um terceiro mandato, embora ele negasse veementemente que adotaria tal conduta. Pois é, estamos em eleições presidenciais. Lula não concorre e se submete tranquilamente às regras do processo democrático, sem plebiscito bolivariano aclamativo e autoritário, ou qualquer outra forma de “défict” democrático. Aliás, na normalidade democrática conquistou mais melhorias sociais e integração de excluídos ao mínimo existencial que muitas ditaduras de esquerda.

Quando Lula partiu rumo ao Irã, as críticas já se apresentaram contundentes e, com elas, as piadas dos ilustrados sobre a forma singela e supostamente ignorante como Lula se referia a postura do governo iraniano na questão nuclear. Lula dizia que era importante alguém ir lá conversar com o líder iraniano.

Nenhum douto analista de nossa mídia lembrou do óbvio em diplomacia, do seu instrumento funcional mais primário: a conversa, a negociação. O velho sindicalista, habituado às mesas e rodadas infinitas de negociação em conflitos trabalhistas foi lá e marcou o nome de nosso país na principal agenda política global. E fez isso de um jeito simples, sem rococós acadêmicos ou expressões em inglês ou alemão, mas pelo único meio que ainda nos resta como humanidade para construirmos a paz e evitarmos a guerra: a conversa.

No dia seguinte ao acordo histórico, o primeiro dessa envergadura que teve o Brasil como protagonista, o “Estadão” noticiava em manchete que o líder turco roubou a cena de Lula ao anunciar o acordo. Estranha forma de selecionar o relevante na informação para formar a manchete. Forma isenta de se expressar, não?

O Brasil não é uma potência militar, não somos uma sociedade belicosa, nunca precisamos contar com grandes poderios militares para nossa defesa. O Brasil tem crescido muito economicamente, mas ainda é um país pobre, sem presença pujante na economia global. Não é por conta de nosso potencial bélico ou nossa riqueza econômica que passamos a figurar como protagonistas de questões políticas mundiais.

Temos assumido, por obra de nossa economia em crescimento e de nossa diplomacia “lulista”, um inegável papel de liderança na América Latina que coloca o país no centro do debate global. Por diversas e diferentes razões, projetamo-nos como país protagonista no plano global. Mas uma dessas razões nossa mídia resiste imensamente em reconhecer: a indiscutível habilidade diplomática de nosso presidente monoglota. O carisma insofismável de Lula é o principal ingrediente de nosso sucesso como país nas relações globais. Passamos a existir no mundo pelo jeito simples, alegre e até meio debochado de nosso presidente.

A mídia global nada mais faz que cumprir seu papel jornalístico-profissional, reconhecendo e noticiando o fato. Os principais e mais relevantes veículos de todo o mundo, com destaque nunca antes dado a um presidente brasileiro, reconhecem o papel invulgar de Lula no momento político internacional. Nossa mídia por vezes de forma sutil, outras vezes nem tanto, parece querer a cada passo desmerecer suas conquistas e, com isso, perde a oportunidade de ganhar em qualidade ética de jornalismo e, ao mesmo tempo, de noticiar um momento histórico singular que passamos como nação em toda sua riqueza.

Setores de classe média paulistana, que integro e convivo em meu cotidiano, adquiriam uma visão de tal forma parcial e ideologicamente antipática a nosso presidente que, como é comum dizer, “se Lula andasse sobre as águas diriam que ele não sabe nadar”.

Sempre culpabilizamos nossos políticos por nossa pequenez como nação, mas talvez desta vez o mesquinho nos habita. Pela primeira vez em meu quase meio século de existência, vejo nosso país sendo admirado e querido pelo mundo. Falta ser querido um pouco mais por nós, brasileiros de classe média. Afinal, fomos nós, mais que Lula ou qualquer outro, que construímos esta nação. Nós somos os vitoriosos.

Mais que ninguém a classe média é a base de nosso sucesso como país, fomos nós, consumidores brasileiros, que fizemos o grande maremoto da crise global virar marola local. Nenhum banco, governo ou organismo internacional nos ajudou. Nós confiamos em nossa economia, em nossa criatividade, em nossa capacidade de gestar futuro e esperança. Sem enfrentamentos violentos. Nós preferimos driblar o “alemão” da crise, parafraseando Garrincha.

Lula e seu governo tiveram erros imensos. A demora em apresentar um plano de direitos humanos, fazendo-o em momento inoportuno, a ausência de ousadia em radicalizar conquistas sociais universalizando direitos fundamentais, a falta de uma crítica mais contundente ao autoritarismo cubano, uma administração medíocre de nossos problemas de infraestrutura e muitos outros.

Mas nenhum desses erros tem o condão de empecer o que resulta da mais antiga piada quanto a Lula na Presidência. Eu mesmo, por diversas vezes, fiz piada com a famosa frase de nosso presidente “nunca antes em nossa história”.

Pois é, hoje, sem piada, afirmo, no mesmo sentido do proprietário da empresa de pesquisa Ibope que, independentemente do resultado de nossa eleição presidencial, nunca antes em nossa história tivemos um presidente tão relevante como Lula. E digo mais: relevante para nossa dignidade como nação.

Acho até que Lula não é apenas o mais importante presidente de nossa história, mas talvez seja um dos mais relevantes brasileiros de nossa história. Parafraseando a Obama, Lula é “o” brasileiro